1.
O Antigo Regime e o Liberalismo
É uma falha fundamental
acreditar que o nazismo é um renascimento ou uma continuação das políticas e
mentalidades do ancien régime ou uma exibição do "espírito prussiano?.
Nada no nazismo adota a corrente de idéias e
instituições da antiga história alemã. Nem o nazismo nem o
pan-germanismo, do qual o nazismo provém e de quem a conseqüente evolução
representa, é derivado do prussianismo de Frederico Guilherme I ou Frederico
II, chamado o Grande. O pan-germanismo e o nazismo nunca pretenderam
restabelecer a política dos eleitores de Brandenburg e dos quatro primeiros
reinos da Prússia. Algumas vezes eles têm retratado a volta do paraíso perdido
da antiga Prússia como o objetivo de seus esforços; mas isso foi mera conversa
propagandista para o consumo de um público que venera os heróis de dias
passados. O programa do nazismo não aponta para a restauração de algo passado
mas para o estabelecimento de algo novo e sem precedente.
O antigo Estado prussiano da
casa dos Hohenzollern foi completamente destruído pela França no campo de
batalha de Jena e Auerstädt (1806). O exército prussiano se rendeu em Prenzlau
e Ratkau, as forças militares da mais importante cidadela e fortaleza
renderam-se sem dispararem um tiro. O rei se refugiou com o czar, cuja mediação
permitiu a preservação de seu reino. Mas o antigo Estado prussiano estava
internamente quebrado muito antes dessa derrota militar; já estava por muito
tempo se tornando decomposto e podre, quando Napoleão deu o golpe final. Pois a
ideologia na qual era baseada perdeu todo seu poder; foi desintegrado pelo
assalto das novas idéias do liberalismo.
Como todos os outros
príncipes e duques que estabeleceram seus governos soberanos sobre os escombros
do Sacro Império Romano Germânico, os Hohenzollerns também consideraram seu
território como um Estado familiar cujas fronteiras tentaram expandir por meio de
violência, artimanha, e acordos familiares. Pessoas vivendo sem suas
propriedades estavam sujeitas a obedecer ordens. Elas se utilizavam da terra e
da propriedade do governante, que tinha
o direito de repartir com elas ad libitum. Sua felicidade e bem-estar não
importavam.
É claro, o rei se
interessava pelo bem-estar material de seus subordinados. Mas esse interesse
não estava fundamentado na crença de que o propósito do governo civil é tornar
as pessoas prósperas. Tais idéias eram consideradas absurdas na Alemanha do
século XVIII. O rei ansiava por aumentar as propriedades dos camponeses e dos
habitantes das cidades pois era de seus rendimentos que derivada sua renda. Ele
não estava interessado no indivíduo mas no
pagador de impostos. Ele queria extrair de sua administração do país os meios de aumentar
seu poder e seu esplendor. Os príncipes alemães enviaram as riquezas da Europa
Ocidental, que provia os reis da França e da Grã-Bretanha com fundos para a
manutenção de muitos exércitos e marinhas. Eles encorajavam comércio, trabalho,
mineração e agricultura a fim de elevar a renda pública. Os subordinados, no
entanto, eram simplesmente peças no jogo dos
governantes.
Mas a postura desses
subordinados mudou consideravelmente no final no século XVIII. Novas idéias
vindas da Europa Ocidental começaram a penetrar na Alemanha. O povo, acostumado
a obedecer cegamente a autoridade dada por Deus aos príncipes, ouviram pela
primeira vez as palavras liberdade, auto-determinação, direitos do homem,
parlamento, constituição. Os alemães aprenderam a captar o significado das
idéias de tais perigosas palavras.
Nenhum alemão contribuiu
para a elaboração do grande sistema de pensamento liberal, que tem transformado
a estrutura da sociedade e substituído o governo de reis e rainhas pelo governo
do povo. Os filósofos, economistas e
sociólogos que o desenvolveram pensaram e escreveram em inglês e francês.
{mosimage}No século XVIII os
alemães não conseguiram nem obter traduções legíveis desses autores ingleses,
escoceses e franceses. O que filósofos idealistas alemães produziram nesta área
é realmente pobre quando comparado com o pensamento inglês e francês
contemporâneo. Mas os intelectuais alemães receberam as idéias ocidentais de
liberdade e de direitos dos homens com entusiasmo. A literatura clássica alemã
está imbuído deles, e os grandes compositores alemães compuseram músicas que
enalteciam a liberdade. Os poemas, peças e outros manuscritos de Frederico
Schiller foram do início ao fim um hino para a liberdade. Cada palavra escrita
por Schiller foi um golpe no antigo sistema político da Alemanha; seus
trabalhos foram calorosamente recebidos por quase todos os alemães que liam
livros ou freqüentavam teatro. Esses intelectuais, é claro, eram uma minoria.
Para as massas, livros e teatros lhes eram desconhecidos. Eles eram os pobres
servos em províncias orientais, habitantes de países católicos, que apenas
lentamente conseguiam libertar a si mesmos das amarras apertadas da
Contra-Reforma. Mesmo nas mais avançadas regiões ocidentais e nas cidades ainda
existiam muitos analfabetos e semi-analfabetos. Essa massa não se interessava
em assuntos políticos; eles obedeciam cegamente, pois viviam com medo do
castigo no inferno, com que a igreja os ameaçava, e ainda com um terrível medo
da polícia. Eles estavam à margem da civilização e da vida cultural alemãs;
sabiam apenas seu dialeto regional e mal podiam conversar com um homem que
falava apenas a língua literária alemã ou um outro dialeto.
Mas o tamanho desse povo
atrasado estava constantemente diminuindo. Prosperidade econômica e educação
propagavam-se ano após ano. Mais e mais pessoas alcançavam um padrão de vida
que os permitia cuidar de outras coisas além de comida e abrigo, e utilizar seu
tempo livre em algo mais que bebida. Quem quer que se erguesse da miséria e se
juntasse à comunidade de homens civilizados tornava-se um liberal. Com exceção
do pequeno grupo de príncipes e de seus aristocráticos servos, praticamente
todos interessados em assuntos políticos eram liberais. Na Alemanha daqueles
dias havia apenas homens liberais e homens indiferentes; mas o número de
indiferentes continuava a diminuir, enquanto o número de liberais aumentava.
Todos os intelectuais
simpatizavam com a Revolução Francesa. Eles desdenhavam o terrorismo dos
jacobinos, mas aprovavam lealmente a grande reforma. Eles viam em Napoleão o homem que guardaria e
completaria essas reformas e ? como Beethoven?tornara-se antipáticos a ele
assim que traiu a liberdade e proclamou-se imperador.
Nunca antes houve qualquer
movimento espiritual que tomasse conta de todo o povo alemão, e nunca antes
haviam se unido em seus sentimentos e idéias. De fato o povo, que falava alemão
e fora subordinados a príncipes de impérios,
prelados, condes e aristocratas urbanos, tornou-se uma nação, a nação
alemã, por meio da recepção a novas idéias vindas do Ocidente. Só então o povo
se envolveu em algo que nunca existira: uma opinião pública alemã, um povo
alemão, uma literatura alemã, uma pátria alemã. Os alemães agora começaram a entender
o sentido dos antigos autores que eles tinham lido na escola. Eles agora
conceberam a história de sua nação como algo mais que lutas de príncipes por
terra e renda. Os subordinados de centenas de pequenos senhores tornaram-se
alemães através da aceitação de idéias ocidentais.
Este novo espírito abalou as
fundações nas quais príncipes construíram seus tronos?a tradicional lealdade e
subserviência dos indivíduos que eram preparados para submeterem-se ao governo
despótico de um grupo de famílias privilegiadas. Os alemães sonhavam agora com
um novo Estado alemão, com governo parlamentar e com direitos humanos. Eles não
se importavam com o atual Estado alemão. Aqueles alemães que se auto
intitularam ?patriotas?, o novo termo da moda importado da França, desprezaram
esses lugares de anarquia e abuso ditatoriais. Eles odiavam o ditador. E eles
odiaram ainda mais a Prússia, pois pareceu-lhes ainda mais poderosa e por isso
ainda mais ameaçadora à liberdade alemã.
O mito prussiano, que
historiadores prussianos do século XIX criaram com uma arrojada distorção de
fatos, teria nos feito acreditar que Frederico II foi visto por seus
contemporâneos como eles mesmos o descrevem?como um defensor da grandeza alemã,
protagonista na ascensão da Alemanha para a unidade e o poder, o herói da
nação. Nada poderia estar mais distante da verdade. As campanhas militares
sobre o rei-guerreiro foram, para seus contemporâneos, lutas para aumentar os
bens da casa dos Brandenburg, que preocupava-se apenas com a dinastia. Eles
admiravam seu talento estratégico, mas detestavam as brutalidades do sistema
prussiano. Quem elogiou Frederico dentro das fronteiras de seu reino o fez por
necessidade, para esquivar-se da indignação de um príncipe que derramou severa
vingança em todo os inimigos. Enquanto pessoas de fora da Prússia o elogiavam,
eles mascararam críticas sobre seus próprios governantes. Os subordinados de
pequenos príncipes entendiam que tal ironia era a forma menos perigosa de
menosprezar seus pequenos Neros e Borgias. Eles elogiavam realizações
militares, mas diziam que estavam felizes, pois não estavam à mercê de seus
caprichos e crueldades. Eles apenas
aprovaram Frederico no poder até que ele combateu seus ditadores internos.
No final do século XVIII, a
opinião pública alemã era tão unanimemente contra o ancien régime quanto a
França o era pouco antes da Revolução. O povo alemão testemunhou com
indiferença a anexação francesa da margem esquerda do Reno, a derrota da
Áustria e da Prússia, o desmoronamento do Sacro Império e o estabelecimento da
Confederação do Reno. O povo saudou as reformas, pressionado pelo predomínio
das idéias francesas. Eles admiraram Napoleão como um grande general e
governador assim como anteriormente tinham admirado Frederico da Prússia. Os
alemães começaram a odiar a França apenas quando?como os subordinados franceses
do imperador?finalmente se cansaram das intermináveis e fatigantes guerras.
Quando o Grande Exército foi destruído na Rússia, o povo interessou-se pelas
campanhas que acabaram com Napoleão, mas apenas porque eles esperavam que sua
queda resultaria no estabelecimento do governo parlamentar. Mais tarde, eventos
dissiparam essa ilusão, e lá lentamente cresceu o revolucionário espírito que
levou à revolta de 1848.
Dizem que a origem do
nacionalismo e do nazismo deverá ser encontrada em manuscritos dos românticos,
em peças de Heinrich von Kleist e em canções políticas que acompanham a luta
final contra Napoleão. Isto também é um erro. Os sofisticados trabalhos dos
românticos, as pervertidas emoções das peças de Kleist e a patriótica poesia
das guerras de libertação não eram apreciadas pelo público; e os ensaios
filosóficos e sociológicos desses autores que recomendavam o retorno às
instituições medievais eram consideradas abstrusas. O povo não estava
interessado na Idade Média mas nas atividades parlamentares do Ocidente. Eles
leram os livros de Goethe e Schiller, não os livros dos românticos; foram às
peças de Schiller, não nas de Kleist. Schiller tornou-se o poeta preferido da
nação; em sua entusiástica devoção à liberdade os alemães encontraram seu ideal
político. A celebração do centésimo
aniversário de Schiller (em 1859) foi a mais impressionante demonstração
política que já ocorrera na Alemanha. A nação alemã foi unida em sua
participação nas idéias de Schiller, nas idéias liberais.
Todo os esforços para fazer
o povo alemão abandonar a causa da liberdade falharam. Os ensinamentos de seus
adversários não surtiram efeito. A polícia de Metternich combateu em vão a
crescente maré do liberalismo.
Apenas nas últimas décadas
do século XIX a influência liberal foi abalada. Ela foi afetada pelas doutrinas
do estatismo. O estatismo?trataremos disso mais tarde?é um sistema de idéias
sócio-políticas que não têm contraparte em histórias mais antigas e não é
associada a antigas formas de pensar, ainda que?em relação ao caráter técnico
de políticas recomendadas?possa com alguma justificativa ser chamada de
neo-mercantilismo.
2.
O Ponto Fraco do Liberalismo Alemão
Por volta da metade do
século XIX, os alemães que estavam interessados em assuntos políticos estavam
unidos em torno do liberalismo. Apesar disso, a nação alemã não obteve sucesso
em livrar-se da opressão absolutista e estabelecer a democracia e o governo parlamentar.
Qual a razão para isso?
Primeiro vamos comparar a
condição alemã com aquela da Itália, que estava em uma situação parecida. A
Itália também estava inclinada ao liberalismo, mas os liberais italianos
estavam impotentes. O exército austríaco era forte o suficiente para derrotar
todos os motins revolucionários. Um exército estrangeiro conteve o liberalismo
italiano; outro exército estrangeiro libertou a Itália desse controle. Em
Solferino, em Königgrätz, e às margens do Marne, franceses, prussianos e
ingleses lutaram nas batalhas que tornaram a Itália independente dos
Habsburgos.
Assim como o liberalismo
italiano não se comparava ao exército austríaco, o liberalismo alemão também
era incapaz de confrontar-se com os exércitos da Áustria e da Prússia. O
exército austríaco consistia principalmente de soldados não-alemães. O exército
prussiano é claro, tinha em sua maioria homens de língua alemã; poloneses,
lituanos e outros eslavos eram somente uma minoria. Mas um grande número desses
homens que falavam um dos dialetos alemães foram recrutados das camadas da
sociedade que ainda não tinham despertado para interesses políticos. Eles
vieram das províncias orientais, da margem oriental do rio Elba. Eles eram em
sua maioria analfabetos e não familiarizados com a mentalidade dos intelectuais
e dos habitantes da cidade. Eles nunca ouviram nada sobre as novas idéias; eles
haviam crescido com o hábito de obedecer o Junker [aristocrata prussiano],
que exercia poder executivo e judiciário
em suas vilas, a quem eles deviam impostos e
corvée (estatutos do trabalho não pagos), e a quem a lei considerava
seus legítimos senhores. Esses eficientes servos não eram capazes de
desobedecer a uma ordem de atirar no povo. O supremo comandante do exército
prussiano podia confiar neles. Esses homens e os poloneses formavam a divisão
que derrotou a Revolução Prussiana em 1848.
Tais foram as condições que
impediram os liberais alemães de adaptar suas ações às suas palavras. Eles
foram forçados a esperar até que o progresso da prosperidade e da educação
pudesse trazer este povo atrasado para as fileiras do liberalismo. Então eles
foram convencidos: a vitória do liberalismo estava prestes a vir. O tempo
trabalhou para isso. Mas, ah, eventos traíram essas expectativas. Foi o destino
da Alemanha: antes que o liberalismo pudesse triunfar, o liberalismo e as
idéias liberais foram derrubadas?não só na Alemanha, mas em toda parte - por
outras idéias, que novamente penetraram na Alemanha pelo Ocidente. O
liberalismo alemão ainda não tinha cumprido sua tarefa quando foi derrotada
pelo estatismo, pelo nacionalismo e pelo socialismo.
3.
O Exército Prussiano
O exército prussiano que
lutou nas batalhas de Leipzig e Waterloo era muito diferente do exército que
Frederico Guilherme I havia organizado e que Frederico II havia comandado em
três grandes guerras. Esse antigo exército da Prússia havia sido esmagado e
destruído na campanha de 1806 e nunca mais reviveu.
O exército prussiano do
século XVIII era composto de homens forçados ao trabalho, brutalmente treinados
com chicotadas, e mantidos juntos por uma disciplina bárbara. Eram
principalmente estrangeiros. Os reis preferiam estrangeiros a seus próprios
subordinados. Eles acreditavam que seus subordinados poderiam ser mais úteis ao
país trabalhando e pagando impostos do que servindo nas Forças Armadas. Em
1742, Frederico II estabeleceu como seu objetivo que a infantaria deveria
consistir de dois terços de estrangeiros e um terço de nativos. Desertores de
exércitos estrangeiros, prisioneiros de guerra, criminosos, vagabundos,
mendigos e pessoas capturadas formavam a maior parte dos regimentos. Esses
soldados estavam preparados para aproveitar cada oportunidade para escapar.
Prevenção de deserção era então a principal preocupação da administração de
assuntos militares. Frederico II começou sua principal pesquisa de estratégia,
seus Princípios Gerais de Guerra, com a exposição de quatorze regras de como
impedir deserções. Considerações táticas e até mesmo estratégicas tinham de
estar subordinadas à prevenção de deserção. As tropas poderiam apenas ser
acionadas quando firmemente reunidas. Patrulhas não poderiam ser enviadas para
fora. Perseguição estratégica das forças derrotadas do inimigo eram
impraticáveis. Marchar e atacar à noite e acampar próximo a florestas era
evitado a todo o custo. Os soldados eram ordenados a vigiarem uns aos outros
constantemente, tanto em guerra como em paz. Cidadãos eram obrigados, sob
ameaça de pesadas punições, a barrar a passagem de desertores, capturá-los e
entregá-los ao exército.
Normalmente, os comandantes
oficiais do exército eram aristocratas. Entre eles, também, estavam muitos
estrangeiros; mas o maior número pertencia à classe prussiana dos Junker.
Frederico II repetia mais e mais em seus manuscritos que plebeus não eram
adequados para comandar, pois suas mentes eram direcionadas para o lucro, não
para a honra. Embora a carreira militar fosse muito rentável, como a de
presidente de empresa que obtinha altos rendimentos, uma grande parte dos
aristocratas proprietários de terras opunham-se à profissão militar para seus
filhos. Os reis enviavam policiais para seqüestrarem os filhos de nobres
proprietários de terras e os colocavam em escolas militares. A educação
fornecida por essas escolas não era mais que uma escola primária. Homens com
ensino superior eram muito raros nos postos de comandantes oficiais
prussianos.[1]
Tal exército podia lutar e -
sob ordens de um hábil comandante - conquistar, apenas enquanto se deparasse
com exércitos de estrutura parecida. Eles dispersavam-se como palha quando
tinham que lutar contra as tropas de Napoleão.
Os exércitos da Revolução
Francesa e do primeiro Império eram recrutados do povo. Eles eram exércitos de
homens livres, não da escória oprimida. Seus comandantes não temiam deserção.
Portanto, puderam abandonar as táticas tradicionais de seguir em linha e dar
salvas de tiros à esmo. Puderam adotar um novo método de combate, isto é, lutar
em colunas e escaramuças. A nova estrutura do exército trouxe primeiro uma nova
tática e depois uma nova estratégia. Contra estes, o antigo exército prussiano
se mostrou impotente.
O estilo francês serviu como
modelo para a organização do exército prussiano entre 1808?1813. Ele foi
construído sob o princípio de que todo homem fisicamente saudável deve servir o
exército. O novo exército manteve a experiência das guerras de 1813 ?1815.
Conseqüentemente sua organização não mudou por aproximadamente meio século.
Como esse exército teria lutado em uma outra guerra contra um agressor
estrangeiro nunca se saberá; foi poupado esse julgamento. Mas uma coisa está
clara, e foi confirmada nos eventos na Revolução de 1848: apenas uma parte
deste exército poderia ser confiado numa luta contra o povo, o ?adversário
doméstico? do governo, e uma guerra de agressão não popular não poderia ser
travada com esses soldados.
Ao reprimir a Revolução de
1848, apenas os regimentos dos Guardas Reais, cujos homens foram selecionados
por sua lealdade ao rei, a cavalaria e os regimentos recrutados das províncias
orientais poderiam ser considerados absolutamente confiáveis As tropas do
exército convocadas do ocidente, a milícia (Landwehr) e os reservistas de
muitos regimentos orientais foram mais ou menos contagiados pelas idéias
liberais.
Os homens das guardas e da
cavalaria tinham de prestar três anos de serviço militar para cada dois anos em
outras posições das forças armadas. Por conseguinte os generais concluíram que
dois anos era um tempo pequeno demais para transformar um civil em um soldado
incondicionalmente leal ao rei. O que era necessário fazer para proteger o
sistema político da Prússia com seu absolutismo real exercido pelos Junkers era
um exército de homens preparados para lutar - sem questionar - contra todos
aqueles que seus comandantes os ordenassem atacar. Este exército - o exército de Sua Majestade,
não um exército do Parlamento ou do povo - teria a tarefa de derrotar qualquer
movimento revolucionário dentro da Prússia ou dentro dos estados menores da
Confederação Germânica, de repelir possíveis invasões vindas do oeste que
poderiam forçar os príncipes da Alemanha a permitir constituições e outras concessões para seus subordinados. Na Europa
dos anos de 1850, onde o imperador francês e o primeiro-ministro britânico,
Lord Palmerston, professaram abertamente suas simpatias em relação aos
movimentos populares que ameaçavam o direito adquirido dos reis e aristocratas,
o exército da casa dos Hohenzollern foi o rocher de bronze no meio da crescente
maré de liberalismo. Tornar esse exército confiável e invencível significava
não apenas preservar os Hohenzollerns e sua aristocracia; significava muito
mais: a salvação da civilização da ameaça da revolução e da anarquia. Tal era a
filosofia de Frederich Julius Stahl e dos hegelianos de direita, tais eram as
idéias dos historiadores prussianos da escola historicista Kleindeutsche, tal
era a mentalidade do partido militar na corte do rei Frederico Guilherme IV.
Esse rei, é claro, foi um neurótico doentio que beirava a completa incapacidade
mental. Mas os generais, liderados pelo general von Roon e apoiados pelo
príncipe Guilherme, irmão do rei e provável herdeiro do trono, buscavam seu
objetivo de forma firme e determinada.
O sucesso parcial da
revolução resultou no estabelecimento de um Parlamento Prussiano. Mas suas
prerrogativas eram tão restritas que o Comandante Supremo não era impedido de
adotar medidas que considerava indispensáveis para a transformação do exército
num instrumento mais confiável nas mãos de seus comandantes.
Os especialistas foram
completamente convencidos de que dois anos de serviço militar ativo eram
suficientes para o treinamento militar da infantaria. Não por razões de
natureza técnico-militar, mas simplesmente por considerações políticas, o rei
prolongou o serviço militar ativo para os regimentos da infantaria da linha de
dois anos para dois anos e meio em 1852 e para três anos em 1856. Por causa
dessa medida, as chances de sucesso contra um novo movimento revolucionário
foram muito incrementadas. O partido militar estava agora confiante que no
futuro imediato eles estariam fortes o suficiente, com a Guarda Real e com os
homens do serviço militar servindo nos regimentos de linha, para conquistar os
rebeldes mal armados. Contando com isso, eles decidiram seguir adiante e
reformar profundamente a organização das Forças Armadas.
O objetivo dessa reforma era
tornar o exército mais forte e mais leal ao rei. O tamanho do batalhão de
infantaria seria quase duplicado, a artilharia aumentou 25 por cento e muitos
novos regimentos da cavalaria foram formados. O número anual de recrutas seria
elevado de menos de 40.000 para 63.000, e os postos de comandantes oficiais
cresceram na mesma proporção. Por outro lado a milícia seria transformada em
uma reserva do exército ativo. Os mais velhos eram liberados do serviço na
milícia como não sendo completamente confiáveis. Os postos mais altos da
milícia seriam confiados a comandantes oficiais das divisões profissionais.[2]
Cientes da força que a
prorrogação do serviço militar já havia dado a eles, e confiantes de que
tinham, por enquanto, suprimido uma tentativa revolucionária, a corte realizou
a reforma sem consultar o parlamento. A insensatez do rei naquele momento se
tornara tão evidente que o príncipe Guilherme teve de ser empossado como
príncipe regente; o poder real estava agora nas mãos de um obediente partidário
da facção aristocrática e de militares furiosos. Em 1859, durante a guerra
entre a Áustria e a França, o exército prussiano tinha sido mobilizado como uma
medida de precaução e para guardar neutralidade. A desmobilização foi efetuada
de tal maneira que os objetivos principais da reforma foram alcançados. Na
primavera de 1860, todos regimentos recentemente planejados já haviam sido
estabelecidos. Só então o gabinete levou a conta da reforma para o parlamento e
pediu que votassem a despesa envolvida.[3]
A luta contra esta despesa
militar foi o último ato político do liberalismo alemão.
4.
O conflito constitucional na Prússia
Os progressistas, como os
liberais chamavam seu partido na câmara inferior prussiana (Câmara dos
Deputados), se opuseram amargamente à reforma. A câmara votou repetidamente
contra a conta e contra o orçamento. O rei - Frederico Guilherme IV já havia
falecido e Guilherme I o havia sucedido- dissolveu o parlamento, mas os
eleitores reelegeram uma maioria de progressistas. O rei e seus ministros não
podiam romper a oposição do corpo legislativo. Mas eles se agarraram a seus
planos e continuaram sem aprovação constitucional e sem consentimento parlamentar.
Eles conduziram o novo exército em duas operações militares, e derrotaram a
Dinamarca em 1864 e a Áustria em 1866. Só então, após a anexação do reino de
Hanover, o controle do eleitor de
Hessen, dos ducados de Nassau, Schleswig e Holstein, e da Cidade Livre
de Frankfort, depois do estabelecimento da hegemonia prussiana sobre todos
estados da Alemanha do Norte e da conclusão dos acordos militares com os
estados da Alemanha do Sul no qual também se renderam aos Hohenzollern, o
Parlamento Prussiano cedeu. O partido progressista se dividiu, e alguns de
seus antigos membros apoiaram o governo.
Dessa forma o Rei obteve a maioria. A câmara aprovou o pagamento de indenizações para condutas inconstitucionais
em assuntos governamentais e, com atraso, sancionou todas as medidas e despesas
a que eles se opuseram por seis anos. O grande Conflito Constitucional resultou
em completo sucesso para o rei e completa derrota para o liberalismo.
Quando uma delegação da
câmara dos deputados levou ao rei o que o parlamento achava do discurso real na
abertura da nova sessão, ele declarou, de forma arrogante, que era sua
obrigação agir como havia agido nos últimos anos e que agiria da mesma forma no
futuro se condições similares voltassem a ocorrer. Porém, durante o conflito,
ele se desesperara mais de uma vez. Em 1862, o rei perdeu a esperança de
derrotar a oposição popular, e estava pronto a abdicar da coroa. O general von
Roon o encorajou a fazer uma última
tentativa, nomeando Bismarck como primeiro-ministro. Bismarck viajou
rapidamente de Paris, onde representava a Prússia na corte de Napoleão III. Ele
encontrou o rei "esgotado, deprimido e desencorajado." Quando
Bismarck tentou explicar seu próprio ponto de vista sobre a situação política,
Guilherme o interrompeu dizendo: "Vejo exatamente como tudo isso acabará.
Bem aqui, nesta praça Opera para a qual essas janelas dão, eles vão decapitar
primeiro você e, logo depois, também eu." Foi um trabalho difícil para
Bismarck infundir coragem no apreensivo Hohenzollern. Mas, finalmente, Bismarck
relata: "Minhas palavras apelaram para sua honra militar e ele se viu na
posição de um oficial que tem a obrigação de defender seu posto até a
morte."[4]
Ainda mais amedrontados que
o rei estavam a rainha, os príncipes e muitos generais. Na Inglaterra, a rainha
Vitória passou noites em claro pensando na posição de sua filha mais velha
casado com o herdeiro do trono da Prússia. O palácio real de Berlim era
assombrado pelos fantasmas de Luiz XVI e Maria Antonieta.
Todos esses medos, no entanto,
eram infundados. Os progressistas não se aventuraram em uma nova revolução, e
eles teriam sido derrotados se tivessem tentado.
Esses muito-abusados
liberais alemães dos anos de 1860, esses homens de hábitos estudiosos, esses
leitores de tratados filosóficos, esses amantes da música e da poesia,
entenderam muito bem porque a revolta de 1848 havia falhado. Eles sabiam que
não poderiam estabelecer um governo popular em uma nação onde milhões ainda
estavam presos nos laços da superstição, da burrice e da ignorância. O problema
político era essencialmente um problema de educação. O sucesso final do
liberalismo e da democracia era incontestável. A direção voltada ao governo
parlamentar era irresistível. Mas a vitória do liberalismo pode ser alcançada
apenas quando aquela camada da população da qual o rei extraiu seus confiáveis
soldados deveria ter se tornado esclarecida e através disso transformada em
defensores das idéias liberais. Então o rei seria forçado a render-se, e o
Parlamento obteria supremacia sem derramamento de sangue.
Os liberais estavam
determinados a poupar o povo alemão, sempre que possível, dos horrores da
revolução e da guerra civil. Eles estavam confiantes que num futuro não muito
distante eles mesmos teriam o controle total da Prússia. Eles tinham apenas de
esperar.
5.
O programa da Pequena Alemanha?
Os progressistas prussianos
não lutaram no Conflito Constitucional para a destruição ou enfraquecimento do
Exército Prussiano. Eles perceberam nessas circunstâncias que a Alemanha
precisava de um forte exército para a defesa de sua independência. Eles queriam
arrancar o exército do rei e transformá-lo em um instrumento para a proteção da
liberdade alemã. A questão central do conflito era se o rei ou o parlamento
deveria controlar o exército.
O objetivo do liberalismo
alemão era a substituição de uma escandalosa administração de trinta pequenos
estados alemães por um único governo liberal. A maioria dos liberais acreditava
que esse futuro Estado alemão não deveria incluir a Áustria. A Áustria era
muito diferente dos outros países de língua alemã; ela tinha seus próprios
problemas, os quais eram diferentes dos problemas do restante das nações. Os
liberais não puderam se conter em ver a Áustria como o mais perigoso obstáculo
para a liberdade da Alemanha. A corte austríaca era dominada por jesuítas, seu
governo fez um acordo com Pio IX, o papa que ardentemente combateu todas as
idéias modernas. Mas o Imperador da Áustria não estava preparado para renunciar
voluntariamente a posição que sua casa ocupou por mais de quatrocentos anos na
Alemanha. Os liberais queriam o Exército Prussiano forte pois tinham medo da
hegemonia austríaca, uma nova Contra-Reforma e o reestabelecimento do sistema
reacionário do falecido príncipe Metternich. Eles ambicionavam um governo único para todos os alemães além
dos limites da Áustria (e Suíça).
Eles então chamaram a si
mesmos de Pequenos Alemães (Kleindeutsche) em contraste aos Grandes Alemães
(Grossdeutsche) que queriam incluir aquelas regiões da Áustria que anteriormente
haviam pertencido ao Sacro Império.
Mas, além disso, havia
outras considerações de política externa que sugeririam um crescimento no
Exército Prussiano. A França, naqueles anos, era governada por um aventureiro que estava convencido de que
poderia preservar seu império apenas por recentes vitórias militares. Na
primeira década de seu reinado ele já havia travado duas guerras sangrentas.
Agora parecia ser a vez da Alemanha. Poucos duvidavam que Napoleão III
divertia-se com a idéia de anexar a margem esquerda do Reno. Quem mais poderia
proteger a Alemanha a não ser o Exército Prussiano?
Então havia mais um
problema: Schleswig-Holstein. Os cidadãos de Holstein, de Lauenburg e do sul de
Schleswig se opuseram amargamente ao governo da Dinamarca. Os liberais alemães
pouco se importaram com os sofisticados argumentos dos advogados e diplomatas
sobre as declarações de vários pretendentes à sucessão nos ducados do Elba.
Eles não acreditaram na doutrina de que a questão de quem deveria governar um
país devesse ser decidida de acordo com as condições da lei feudal e dos pactos
de famílias centenárias. Eles apoiaram a lei ocidental de autodeterminação. Os
povos desses ducados estavam relutantes em concordar com a soberania de um
homem que só tinha um título porque havia casado com uma princesa por uma declaração
contestada de sucessão em Schleswig e que não tinha nenhum direito à sucessão
em Holstein; eles ambicionavam a independência dentro da Confederação
Germânica. Esse fato por si só pareceu importante aos olhos dos liberais. Por
que a esses alemães seria negado o que ingleses, franceses, belgas e italianos
tinham? Mas como o rei da Dinamarca não estava preparado para renunciar a seus
direitos, essa questão não poderia ser resolvida sem recorrer às armas.
Seria um erro julgar todos
esses problemas sob o ponto de vista dos eventos subseqüentes. Bismarck livrou
Schleswig-Holstein do jugo de seus opressores dinamarqueses apenas para
anexá-los à Prússia; e ele anexou não só o sul de Schleswig mas também o norte
de Schleswig, cuja população desejava continuar no reino da Dinamarca. Napoleão III não atacou a
Alemanha; foi Bismarck quem instigou a guerra contra a França. Ninguém previu
essa conseqüência no começo dos anos de 1860. Naquele tempo todos na Europa e
nos EUA consideravam o imperador da França o principal violador da paz e
agressor. A simpatia externa pela aspiração da Alemanha por unificação era em
grande parte devido à convicção de que a unificação contrabalancearia a França
e, dessa forma, tornaria a Europa um local seguro e pacífico.
Os Pequenos Alemães também
estavam enganados quanto aos seus preconceitos religiosos. Assim como a maioria
dos liberais, eles consideravam o Protestantismo como o primeiro passo para
sair das trevas medievais em direção ao iluminismo. Eles desconfiavam da
Áustria porque ela era católica; eles preferiram a Prússia porque a maioria de
sua população era protestante. Apesar de toda experiência, eles tinham
esperanças de que a Prússia fosse mais aberta às idéias liberais do que a
Áustria. As condições políticas na Áustria, sem dúvida, eram insatisfatórias
naqueles anos críticos. Mas eventos posteriores provaram que o Protestantismo
não protegia a liberdade mais do que o Catolicismo. O ideal do liberalismo é a
completa separação entre Igreja e Estado, e tolerância - sem qualquer
consideração quanto às diferenças entre as igrejas.
Porém esse lapso não estava
limitado à Alemanha. Os liberais franceses estavam tão iludidos que de início
saudaram a vitória prussiana em Königgrätz (Sadova). Apenas depois de refletir
no assunto é que perceberam que a derrota da Áustria significava também a morte
da França, e eles criaram - tarde demais - o grito de guerra Revanche pour
Sadova.
Königgrätz foi de qualquer
modo uma derrota esmagadora para o liberalismo alemão. Os liberais estavam conscientes
do fato de que tinham perdido uma campanha. Apesar disso, estavam cheios de
esperança. Eles estavam firmemente decididos a prosseguir com sua luta no novo
Parlamento da Alemanha do Norte. Essa luta, eles sentiam, precisava estabelecer
a vitória do liberalismo e a derrota do absolutismo. O momento em que o rei não
mais seria capaz de usar ?seu? exército contra o povo parecia se aproximar a
cada dia.
6.
O episódio de Lassalle
Seria possível lidar com o
Conflito Constitucional Prussiano sem ao menos mencionar o nome de Ferdinand
Lassalle. A intervenção de Lassalle não influenciou o curso dos eventos. Porém,
predisse algo novo: o surgimento das forças que estavam destinadas a moldar a
sorte da Alemanha e da civilização ocidental.
Enquanto os progressistas
prussianos estavam envolvidos em sua luta pela liberdade, Lassalle os atacou de
forma amarga e apaixonada. Ele tentou instigar os trabalhadores a retirar seu
apoio aos progressistas. Ele proclamou o evangelho da luta de classes. Os
progressistas, como representantes da burguesia, afirmou, eram os inimigos
mortais dos trabalhadores. Vocês não deveriam combater o Estado mas as classes
exploradoras. O Estado é seu amigo; é claro, não o Estado governado por Herr
von Bismarck mas o Estado controlado por mim, Lassalle.
Lassalle não estava na folha
de pagamento de Bismarck, como algumas pessoas suspeitavam. Ninguém podia
subornar Lassalle. Somente após sua morte alguns de seus ex-amigos tomaram
dinheiro do governo. Mas como Bismarck e Lassalle atacavam os progressistas,
ambos se tornaram praticamente aliados. Logo Lassalle se aproximou de Bismarck.
Os dois costumavam se encontrar clandestinamente. Apenas muitos anos depois foi
revelado o segredo dessa reação. É inútil discutir no quê uma aberta e
duradoura cooperação entre esses dois homens ambiciosos teria resultado se
Lassalle não tivesse morrido logo após esses encontros por causa de um
ferimento obtido em um duelo (31 de agosto de 1864). Ambos ambicionavam o
supremo poder na Alemanha. Nem Bismarck nem Lassalle estavam preparados para
renunciar às suas declarações.
Bismarck e seus amigos
militares e aristocráticos odiavam os liberais tão profundamente que estariam
prontos a ajudar os socialistas a obter o controle do país caso eles mesmos
tivessem se mostrado fracos em proteger seu próprio governo. Mas eles eram -
por enquanto - fortes o suficiente para manter os progressistas em rédea curta.
Eles não precisavam do apoio de Lassalle.
Não é verdade que Lassalle
deu a Bismarck a idéia de que o socialismo revolucionário era um poderoso
aliado na luta contra o liberalismo. Bismarck já acreditava há muito tempo que
as classes mais baixas eram melhores monarquistas que as classes médias. [5]
Ademais, como ministro prussiano em Paris, ele teve a oportunidade de observar
o funcionamento do cesarismo. Talvez sua predileção pelo direito universal de
voto foi reforçada por suas conversas com Lassalle. Mas por enquanto ele não
tinha utilidade para a cooperação de Lassalle. O partido de Lassalle ainda era
muito pequeno para ser considerado importante. Na época da morte de Lassalle, o
Allgemeine Deutsche Arbeiterverein não tinha mais que 4.000 membros. [6]
A agitação de Lassalle não
impediu as atividades dos progressistas. Foi uma chateação para eles, não um
obstáculo. Nem tivera nada a aprender de suas doutrinas. Que o Parlamento da
Prússia era apenas uma farsa e que o exército foi a principal fortaleza do
absolutismo da Prússia não era novidade para eles. Foi exatamente porque eles
sabiam disso que lutaram no grande conflito.
A breve e demagógica
carreira de Lassalle é notável porque, pela primeira vez na Alemanha, as idéias
socialistas e estatistas apareceram no cenário político como oposição ao
liberalismo e à liberdade. Lassalle não foi realmente um nazista; mas foi o mais
destacado precursor do nazismo, e o primeiro alemão que ambicionou a posição de
Führer. Ele rejeitou todos os valores do Iluminismo e da filosofia liberal, mas
não como os eulogistas românticos da Idade Média e do legitimismo real fizeram.
Ele os refutou; mas ele prometeu ao mesmo tempo realizá-los de uma forma mais
completa e mais ampla. O liberalismo, declarou, ambiciona uma liberdade
artificial, mas eu trarei a vocês a verdadeira liberdade. E a verdadeira
liberdade significa a onipotência do governo. Não é a polícia que é a inimiga
da liberdade mas a burguesia.